Volume 7 Número 2 Ano 2007
Autor:Maria Eduarda Rosa
A Festa do Espírito Santo na ilha de S. Jorge nos Açores
Autor: Maria Eduarda Rosa
Galego
Em Portugal, o culto popular ao Divino Espírito Santo remonta ao tempo de Isabel de Aragão e de D. Dinis, rei de Portugal, cognominado O Lavrador, nos princípios do século XIV.
Inspirado provavelmente por Arnaldo de Vilanova, um médico catalão franciscano amigo de Santa Isabel, conhecedor das ideias de Joaquim de Flora, o frade cisterciense da Calábria que profetizava as Três Idades: a do Pai, a do Filho e a do Espírito Santo, Santa Isabel e D. Dinis criaram um projecto inovador, considerado o projecto áureo. Em que consistia esse projecto áureo em que um número considerável de pensadores como António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, continuou a acreditar?
Era precisamente um projecto de futuro, de um Império do Espírito em que cada ser que nasce teria direito à Vida e portanto teria de ter para começar direito a alimento e tudo o que fosse necessário à sua sobrevivência.
A rainha e o rei portugueses criaram o culto ao Espírito Santo colocando à mesa doze pobres. O culto ao Espírito Santo passou a ser uma Festa popular com comida para todos e a coroação de uma criança, um Imperador do Divino Espírito Santo como símbolo do Reino futuro do Espírito, um reino cheio de fraternidade e amor.
O Culto ao Espírito Santo embarcou com os povoadores que vieram do continente português para os Açores, nove ilhas no Atlântico Norte, descobertas pelas caravelas do Infante D. Henrique. Estas Festas foram levadas mais tarde pelos açorianos até ao Brasil, aos Estados Unidos da América, Canadá e outros continentes por onde a diáspora dos Açores se instalou.
Ainda hoje perduram estas Festas, sendo as mais populares do arquipélago.

Resolvemos dar uma volta pela ilha de S. Jorge, no sábado, dia 2 de Junho.

Iniciámos a visita à ilha de manhã, saindo da vila das Velas e parando nos Rosais. À entrada desta localidade havia um grupo de homens que enfeitavam um carro de bois com ramos verdes de criptoméria que ligavam a uma estrutura de canas de bambu. Três metros mais à frente, um simpático homem no meio do caminho mandou-nos parar e convidou-nos para sairmos do carro para nos sentarmos numa das duas mesas que estavam no rés-do-chão da casa e para comermos. Assim fizemos. Foi um pequeno almoço com massa cevada, o pão do Espírito Santo, queijo de S. Jorge e manteiga, vinho, sumos e água. Podia comer-se o que apetecesse. Uma das Mordomas da Festa, no fim do repasto, convidava-nos para voltarmos, pois todo o dia havia comida na mesa. De volta à estrada, agradecemos ao senhor que nos convidara a entrar e ele, feliz, respondeu: “Nós é que agradecemos”.
Emocionados com esta vivência, dirigimo-nos para a Calheta, pois disseram-nos que a Festa do Tremoço acontecia lá, num lugar chamado Fajã Grande. Aí, descemos até à beira-mar onde se encontrava um mar de gente. Uns numa bicha candidatavam-se a comer albacora (atum) com batatas. Outros eram servidos de favas guisadas, tremoços, vinho, pão de milho, bolo de milho, pão de trigo, etc. As pessoas ficavam-se nos rochedos à beira-mar a saborear estes petiscos. Várias pessoas passavam com travessas de bolos doces. Cada um tirava o que lhe apetecia.
À tardinha, dois carros enfeitados distribuíram tremoços por todas as casas da Fajã Grande. Sabemos que prepararam 250 Kg de tremoços curtidos numa poça do mar.
Passámos pelos Biscoitos também onde assistimos a um desfile de um carro de bois enfeitado, banda musical e uns homens davam vinho a quem passava. Ao pé do Império havia muitas mesas cheias de comida: frango, entrecosto grelhado, massa cevada, pão, queijo, vinho e sumos.
Nas Beiras havia um carrinho puxado por ovelhas todo enfeitado. Também ia para o Império.
Em Santo Amaro deram-nos também massa e vinho.

Regressámos aos Rosais onde os carros de bois enfeitados levavam 150 bandeiras de pano a adejar no cimo, de tecidos diferentes. Dava um aspecto de grande beleza.

Naquele dia não gastámos nem um tostão em comida. E quando perguntávamos às pessoas se estavam cansadas, elas respondiam:
“Vale fazer tudo isto. É para o Divino Espírito Santo."


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